Argemiro era um crioulo parrudo até um pouco baixo para ser um grande alf – esquerdo. Pulou da Portuguesa Santista para o famoso Vasco e veio estrear num amistoso noturno no Pacaembu, contra o Palmeiras, lá por volta de 46/47, não preciso bem.
Eu e meu saudoso pai fomos assistir a peleja, dispostos a torcer pelo time paulista, embora veteranos São-paulinos!
Aquela noite sugeria uma partida disputada, Palmeiras de Viladonica e os cariocas com um grande time coeso e temido.
Bem atrás das numeradas, nós dois ocupamos uns degraus privilegiados, em instantes lotados por um enxame de Palestrinos fanáticos.
O jogo começou e o Argemiro ainda pouco conhecido, exibia os seus dotes como Djalma Santos, sem violência e com toda a técnica.
Um gol relâmpago do Vasco esfriou a Palestrada. E assim, quase em seguida, 2x0, 3x0, 4x0 e um só gol dos alviverdes. A torcida revoltada, no segundo tempo, gritava furiosa: “Quebra a perna desse F.P.” no desespero pelo placar.
Eu e meu pai não resistimos a essa loucura e tentamos condenar as ofensas ao Argemiro, talvez por um sentimento oculto de satisfação pelo score...Toda nossa disposição de torcida se invertera.
Mas para nosso castigo, o Palmeiras reagiu e em poucos minutos iniciou uma virada sensacional: 4x2, 4x3 e 4x4. A explosão dos Palmeirenses ao nosso lado, no empate, foi como uma bomba e um deles com um só dente superior, gritava gol tão perto de mim, que lhe sentia o gosto da porpeta ingerida! Em segundos estávamos irremediavelmente sitiados, ouvindo ofensas que fariam tremer os céus. Eram 2 contra 100, sei lá e não tínhamos onde enfiar a cara.
Foi quando Sá ponta direita vascaíno, balançou as redes bem no finzinho do jogo – 5x4!
Era a nossa vingança, pois naquele momento já havíamos virado cariocas.
Olhei pro lado, procurando o desdentado, mas os degraus atrás das numeradas já estavam vazios e a torcida furibunda em plena retirada.
Hoje, quando o “Parmera” vence o meu Tricolor só me resta o consolo de que meu neto está radiante. Mas vou deserdar esse maledetto!
Helio Motta Mello